quarta-feira, 21 de março de 2012

Francisco Cardoso de Britto Chaves (Chico Porfírio), sua influência fez com que Canindé de São Francisco se emancipasse




Família Britto, tendo ao centro Dr. Hercílio Britto e sua esposa. (Hercílio penalva)


Legenda da foto: No centro, sentados o Dr. Hercílio e sua esposa Dona Ida Berenguer de Britto, em pé os filhos e suas esposas, comemorando o enlace matrimonial do Dr. Otávio Penalva e Hélida Britto Penalva. (Acervo fotográfico de Herílio Britto Penalva).
 Canindé de São Francisco/SE – Hoje Canindé completa 58 anos de emancipação política, ou seja: deixa de ser parte do morgado de Porto da Folha para ser de fato elevada a categoria de cidade.

Esqueça tudo que voce já leu nos livros sobre a história de Canindé de São francisco, lá voce só via encontrar fragmentos e esboços. A verdadeira história está aqui mesmo através da valorização de três estados: O povo, a cultura e a história contada por eles mesmos.
Muitos só conhecem a história de Canindé de São Francisco através de alguns poucos livros, alguns poucos documentos geográficos, registros históricos, estatísticos e os tratados sobre as sesmarias, distritos e fazendas no inicio de 1600 quando ainda Sergipe pertenciam ao estado da Bahia. Porém, acredito que o mais belo é o pouco que alguns antigos personagens dessa história, ainda vivos, possam contar a partir do que ouviram dos seus avós, pais e outros que compuseram esses registros. Em Canindé o que é mais belo é a história do pequeno vilarejo, o território e fazendas, os traços desse povo, formado a partir de vaqueiros, criadores de rebanhos de ovelhas, gado, de agricultores, dos esquecidos canoeiros como Cuite - pai de Valera -, Fininho - pai de Pedro Fino e avô do jogador Márcio Canindé - e a grande contribuição especial de uma família que muito fez por essa terra e um pouco do que ela é hoje: a família Britto.

Daniel e Dona Marinhinha (Foto, Adeval Marques)
 Ainda acredito que um dia haverá de se fazer um resgate histórico, cultural e social da história do povo de Canindé de São Francisco onde haja a produção de trabalhos e dai a possibilidade do mesmo ser inserido nas escolas de ensino da rede pública e particular do município. Conhecer a história local – com verdade - é tudo de mais importante para o presente e as novas gerações que hão de vir. O seu resgate dignifica o passado quando esse passa a ser conhecido, retirando-o do esquecimento e relegando a atenção e os méritos que lhe devem ser conferidos. 

Ananias Fernandes
Saber quem foram os atores e o que eles fizeram por Canindé é faz-se mister ressaltar o quanto temos ainda de passado presente em nossa sociedade. Para isso chama a atenção do único patrimônio desse povo construído ainda no século de 1800 e que ficou relegado e exposto a chuva, ao sol e vento; sem atenção, desvalorizado; cemitério de valor histórico e cultural imprescindíveis para quando essa história for um dia contada realmente. Apenas para dar um exemplo. 
Com um pouco de sua atenção gostaria de relatar alguns fatos importantes da história de Canindé a partir das minhas arguições com seu Daniel da Pedra D´água – um dos maiores vaqueiros de Canindé de São Francisco -, Dona Marinhinha, Dona Durvalina, João Apolônio com seus registros, alguns professores, Dona Auxiliadora, Dona Didi, Dona Mirô, Dão, Dona Auxiliadora, Salomão, Dona Dionizia, Zé Leobino e alguns outros. Pesquisa e registros ainda existe de sobra, é só uma questão de buscar tempo para pesquisar. 

Dizem os mais antigos que Canindé de São Francisco tinha um jeito de viver muito especial. Era um lugar tranquilo, pacato, da vida simples, de um laço de amizades muito forte entre os moradores quase em sua maioria com laços sanguíneos, mas e, contudo, cheio de dificuldades sociais e financeiras.  

Pequeno, provinciano e sem perspectivas de desenvolvimento no horizonte, Canindé mais parecia um arruado de casinhas em sua maioria feitas de taipas ou rusticamente de tijolos formando assim um vilarejo de mais ou menos 130 a 140 residências. Há quem defenda uma faixa para o número de casas que é divergente. 
Os dias eram repetidos em uma rotina simples pelos seus moradores que resumia-se aos trabalhos em fazendas, onde alguns eram vaqueiros, o tecer ou tear de redes para pescaria, tarrafear por entre as pedras na busca do cary, chira, curimatá, mandim amarelo ou açu, surubim e outros ofertados pelo grande rio da unidade nacional, rio São Francisco, também chamado anteriormente pelos primeiros indígenas que vivam em sua margem de Opara, onde traduzido em dialeto Tupy Guarani significa Grande Mar. 

Chegou por aqui certo homem a procura de terras e se deparou com um lugar chamado pelos nativos da região, velhos vaqueiros, por “Mela Bode” devido a vegetação predominante no local. Essa vegetação é pegajosa e fixa facilmente no couro do animal e, como a maioria do rebanho na época era o de ovinos –bode – o mato agarrava-se neles e assim ficou batizado de “Mela Bode”. Todo a região  onde hoje é o Assentamento Cuiabá e Alto Bonito eram conhecidos por “Mela Bode” e, após a chegada de Francisco Cardoso de Britto Chaves (Chico Porfírio), passou a fazer parte das terras da Fazenda Cuiabá que, como diz o escritor e historiador Alcino Alves Costa em seu livro ainda não publicado – Canoas: o caminho pelas águas – no seguinte trecho: “no final do século XIX o coronel Francisco Cardoso de Britto Chaves (Chico Porfírio) comprou ao capitão Luiz da Silva Tavares todo aquele mundão de terras. Fez casa residencial, construiu em sociedade com o irmão João Fernandes de Britto, um curtume de couros e com esses melhoramentos a vilazinha, que era o Canindé de Baixo, foi crescendo assustadoramente. Carregado pelo prestígio e força do afamado coronel, o povoado, em 07 de novembro de 1899, se tornou sede de Distrito de Paz, lei que foi posteriormente revogada. Reparando a injusta decisão de tornar sem efeito a lei que havia agraciado o arruado a tão almejada condição de sede de Distrito, as autoridades providenciaram o Decreto Estadual no. 69, de 28 de março de 1938, dando o direito a que o lugar dos Britto fosse definitivamente sede de distrito. Seu Daniel foi funcionário, quando ainda criança, do Coronel Chico Porfírio e tem muito para contar.
  
Legenda da foto: Canoa Progresso: um dos símbolos de exposição do poder da família Britto. A célebre canoa Progresso, defronte a Fabrica de Tecidos. (Acervo Herílio Britto Penalva).
Continua Alcino Alves Costa em seu livro que: “ O poder dessa família era impressionante. E ela tinha especial paixão pela povoação que era o carro-chefe de seus negócios pastoris naqueles ermos de sertão. Como prova de suas ilimitadas influências se decidiram por emancipar o lugar que tanto amavam. Foi o que aconteceu. Naquele dia 25 de novembro de 1953 saiu à lei no. 525-A, desmembrando o Canindé Velho de Baixo do município de Porto da Folha.” – Alcino Alves Costa, escritor em seu livro Canoas: o caminho pelas águas.
Jorge Luiz Carvalho
 Realmente. Com a chegada do Coronel Chico Porfirio o  lugarejo ganha novos aspectos a partir da construção de uma fábrica que trabalhava o couro em natura beneficiando-o e fornecendo-o para vários setores do ramo de comércio. Esse advento insidio em vários aspectos da economia local como  o emprego da mão de obra, construiu em seu entorno um pequeno comércio de aquisição do couro, empregou mão de obra local, distribuiu renda entre os moradores, fez com que o lugar tivesse um porto para as canoas de tolda escoar essas mercadorias para as cidades de Piranhas e Propriá, estabelecendo de forma efetiva uma rota comercial e de transporte de passageiros no Baixo São Francisco entre o Alto Sertão e a praia onde na volta das canoas de tolda começaram a vir produtos que antes não existiam no lugarejo pela falta de conhecimento, cultura ou condições dos nativos; o Coronel tratou em construir um cemitério, pois os falecidos eram enterrados nas covas rasas e isso se deu  no século  XIX, provavelmente em 1817 (?);  construiu uma pequena unidade escolar, foi erigida a primeira unidade escolar, construção da primeira casa em moldes arquitetônico no local para abrigar ao Coronel e família, maquinário, caldeira a vapor, expansão da criação de gado, construção do açude da fazenda Cuiabá, abertura de algumas pequenas estradas ligando o Velha Canindé ao povoado Curituba, Capim Grosso e cidade de Poço Redondo que na época era um curral chamado de Poço de Cima, pequena igreja para orações, uma linda canoa de tolda por nome do lugar que, segundo o mestre naval em carpintaria, Cornélio Rodrigues e o outro de mesma função chamado de Pedro Minervino,  carregava 1.200 sacos de 60 kg ou 7.200 toneladas (construída por seu filho Hercílio Britto), além de tripulação e outros pequenos pesos a bordo. Tudo isso e muito mais que está esquecido ou perdido no tempo é o começo sabido por poucos de um lugar que foi abençoado com a construção de uma barragem que lhe mudou, de forma positiva, os aspectos sociais e econômicos mudando a configuração local e humana da região. 

Com a morte do coronel Francisco porfírio de Britto, na cidade de Própria aos 87 (?) anos de idade, seu filho, formado em economia, Doutor Hercílio Britto, amplia os negócios da família e constrói, na cidade de Propriá, a Fábrica de Fiação e Tecelagem e remaneja boa parte de mão de obra da cidade de Canindé de São Francisco onde muitos fixou residência na outra cidade, constituiu família e nunca mais voltou. A contribuição que o povo de Canindé deu na formação do povo de Propriá é riquíssima e de valor histórico e cultura muito importantes. 

Legenda da foto: Esta é a famosa Fábrica de Tecidos de Propriá, à beira do Velho Chico, propriedade do Dr. Hercílio. (Acervo fotográfico de Herílio Britto Penalva).
Salomão recebendo diploma
O tempo passou, o progresso chegou, as casas de taipa ficaram no chão a vida mudou. Subiu a serra para deixar ser a saudosa Velha Canindé para passar a chamar-se de Nova Canindé ou só Canindé de São Francisco.

Não tente achar esses registros por ai ou em qualquer lugar porque você não os encontrará nos belos livros acadêmicos de história, sociologia, antropologia ou em outras fontes literárias. Esses relatos estão guardados na mente dos antigos filhos de Canindé de São Francisco os quais têm muito para passar como os já citados acima. 
Eles precisam de atenção e até agradecem por isso além de que, ao produzirmos o material que lhes imbutem o nome como fonte de referência histórica, estamos valorizando duas das coisas mais importantes que Canindé tem: sua história e seu povo.

Por isso: Esqueça tudo que voce já leu nos livros sobre a história de Canindé de São francisco, lá voce só via encontrar fragmentos e esboços. A verdadeira história está aqui mesmo através da valorização de três estados: O povo, a cultura e a história contada por eles mesmos. 
Adeval Marques